segunda-feira, dezembro 07, 2009

Excesso de informação é a alienação contemporânea

Se eu tivesse que esboçar um mapa das minhas interações com outras pessoas em redes digitais, nas últimas semanas, teria que incluir uma lista constituída pelas principais ferramentas que estão à disposição hoje em dia: a blogosfera, as listas de discussão, o Orkut, o Facebook e o Twitter.
Por caminhos curiosos, por razões que eu precisaria (e talvez deveria) investigar mais, em cada um desses espaços encontro nichos de relações que me mobilizam a manter-me por lá. Os amigos, alguns no Facebook, outros no Orkut. Diversos contatos profissionais no Twitter, mas no Facebook também. Contatos no exterior, Facebook. Companheiros da Rede, da reflexão sobre vida digital e caminhos da cultura, da política e da educação, leio nos blogs, no Google Readers, no Twitter, nas listas de discussão.
Isso sem mencionar o correio eletrônico, meio pelo qual sigo em contato com vários grupos, o que inclui família, amigos que não estão nas Redes Sociais, contatos profissionais da escola, etc.
Tanta gente decreta levianamente a morte do correio eletrônico, mas preciso dizer que ele tem sido, para mim, a grande baliza de filtragem de todos esses vertedouros de informação. É por email que sou informada de que meus contatos me acionaram nas respectivas Redes, e, em geral, é por ele que posso triar o que preciso verificar já e o que pode aguardar outro momento. Como um RSS de contatos pessoais.
Com o surgimento do Google Wave, outro dia, lá estavamos testando adivinhar para o que serve esse novo brinquedinho. Já decidi - nenhuma pressa. O tempo e o movimento das conversas me avisarão quando valer à pena eu checar o Google Wave também. Escrevi para o Sérgio diante de uma de nossas primeiras waves: o excesso de informação é a alienação contemporânea. O limite entre estar bem informado e estar hipnotizado pelo fluxo incessante de informação é tênue, e saber respeitá-lo demanda experiência e atenção. Exercitar esse discernimento é, talvez, a ação educativa mais importante que temos a desempenhar.

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12 Comments:

Blogger Jose Porfiro said...

Esse é um bom mote para discussão: "Excesso de informação é a alienação contemporânea".
Da mesma forma que insuficiência de informação também é uma questão complicada em nossa sociedade.
Excesso x insuficiência.
Cada um é alienado em determinadas questões.
Naquilo que dominamos, quando temos os conceitos necessários, quanto mais informação melhor.
Quando não se tem as ferramentas de entendimento, pouca ou muita informação não faz muita diferença.

Jose Porfiro
http://jporfiro.blog.uol.com.br

2:24 da manhã  
Blogger Robson Leandro da Silva said...

Concordo totalmente com você Lilian. Muita informação não significa uma sociedade mais inteligente. Muito pelo contrário. É possível perceber o quanto a qualidade dos discursos e até de conversas que temos com as pessoas caiu. Acho que o velho bordão "menos é mais" continua valendo...

9:19 da manhã  
Blogger Lilian said...

Olá José, que bom que a discussão começou!
Me ocorreu que usei o termo alienação bem próxima ao sentido popular, como pouca consciência de nossas ações e sua repercussão no andamento do mundo.
A excassez ou o excesso sempre funcionam como limites extremos - seja de informação, de consumo de alimentos, da prática de esportes. Em geral, em ambas as pontas há uma situação pouco saudável.
No caso da especialização, o conhecimento amplo é fundamental, mas duvido que seja o "excesso" de informação que dê base ao conhecimento. Se ela for excessiva, acabará descartada ou arquivada para consumo futuro, sem muito critério...
O que me chama a atenção é o magnetismo da informação pela informação, e aí, o tempo será cada vez mais escasso para uma atividade fundamental: o uso das tais ferramentas de entendimento.
Isso pode acontecer em várias situações - na escola, por exemplo, é só mandar brasa nas informações e não proporcionar oportunidades de processá-las. Aí, o desenvolvimento de uma reflexão crítica terá menos oportunidades para se estruturar.
Na vida digital, leia,leia, leia, zapeie, pule de link em link... e, de preferência, não se envolva em nenhuma ação que promova incômodo intelectual ou transformação social.

9:34 da manhã  
Blogger Lilian said...

Ê, Robson...
Não tinha pensado por aí, se a qualidade dos discursos caiu ou não... discurso de quem?
Sempre convivi com situações em que se repetia muito os bordões dos programas de TV, ou os clichês das revistas políticas engajadas. Nada disso seria classificado como "de qualidade". Hoje em dia, seria o que se chama de #mimimi (e olha que uma vez um professor, linguista, me chamou a atenção para a importância que a repetição de clichês possui na estruturação da linguagem...)
Mas concordo com você - menos é mais, quando menos é resultado do discernimento quanto ao que temos a dizer...
Eu, por exemplo, já virei uma matraca nesses comentários

9:42 da manhã  
Blogger Rafael Mantovani said...

Olá, Lilian

tudo bem? Fui seu aluno no Equipe e agora descobri (pescando entre a torrente de informações do twitter) por acaso o seu blog. Essa ameaça do excesso de informação é algo que hoje em dia me preocupa muito, pois estou tentando me "reabilitar" :-) do vício por mini-informações que jorram na internet.
Sei que parece engraçado tratar do problema como se fosse um vício, mas em muitas circunstâncias o uso da internet é justamente isso, um recurso de alívio psicológico contra as pressões do cotidiano. Acho que a maior parte das pessoas "fuma informação" quando está fazendo um trabalho difícil ou entediante, ou numa situação em que não quer tomar contato com problemas cotidianos, ou de relacionamento etc. O acesso às redes de relacionamento serve pra justificar uma pausa, um escape, ou então para inserir alguma novidade (por mais superficial que seja) numa situação mental que parece estagnada.
O fluxo contínuo de informações (na maior parte fragmentadas, sem relação entre si) parece ocupar a função que a TV antigamente ocupava para a pessoa estressada/entediada, ou seja, de entreter o cérebro com um fluxo contínuo de informação fácil, digerível, que não exija muita atividade mental do receptor.
A grande vantagem da internet é que pelo menos o "viciado" tem muito mais opções de fluxo de informação pra usar, não está restrito a uns poucos canais televisivos, e portanto não é obrigado a se sujeitar à seleção das informações feita por esses canais.
(...)

3:37 da tarde  
Blogger Rafael Mantovani said...

(cont.)
A grande desvantagem, a meu ver, é que na internet as informações são ainda mais fragmentadas e descontextualizadas do que na TV. Se uma pessoa entediada antigamente passaria meia hora assistindo a um seriado imbecil, hoje pode, nessa mesma meia hora, ler/ver/ouvir dezenas de fragmentos de informações imbecis. O efeito mais perceptível desse hábito (que já senti e sinto claramente em mim) é uma espécie peculiar de emburrecimento, uma dificuldade grande de estabelecer um pensamento "de longo fôlego" ou paciente ou coerente. É como se o cérebro se acostumasse a pensar como o twitter: só se tem ideias curtas, não relacionadas umas às outras, nenhuma delas muito relevante nem muito empolgante, nenhuma delas parecendo nos levar a lugar algum na busca por entendimento (ou prazer estético, ou satisfação espiritual ou o que quer que se procure com ideias). Outro efeito patente é a ansiedade incontrolável por informações novas, as notícias rapidamente ficam velhas e já não abafam mais o tédio (ou os outros sentimentos ruins), levando o "viciado" a procurar cada vez mais notícias (uma espécie de "tolerância", fazendo uma analogia com um vício químico).
Numa época em que fazia diariamente um trabalho chato no computador e usava as informações como válvula de escape, já tive ressacas pesadas, em que nada mais parecia me fazer sentido. Meu "mundo mental" inteiro parecia um depósito frenético de informações desconexas e não processadas, na conversa com os outros eu não conseguia prestar atenção no mesmo assunto por mais de cinco minutos, e mesmo agora, enquanto escrevo este comentário, tenho várias vezes a ânsia de ir checar o twitter sempre que acho difícil me expressar e empaco numa frase.
Outro dia conheci um cara, um pouco mais novo que eu (eu tenho 29 anos), que disse que não tem saco nem pra ler um artigo de revista, que faz anos que não lê nada maior de vinte linhas, e que desde o advento do YouTube não tem paciência nem pra ver um filme inteiro.
Será que vai chegar o tempo em que vamos lembrar da TV como uma forma de alienação mais saudável, menos devastadora pra faculdade do entendimento? Será que as gerações futuras vão admirar a capacidade que hoje ainda temos, de ler textos com centenas de páginas e passar duas longas horas vendo o mesmo filme?
Enfim, são coisas que fico pensando. Peço desculpas pela verborragia, mas esse assunto me interessa muito e me empolguei com o seu texto. Espero que esteja tudo bem contigo, voltarei a visitar mais o seu blog.
Bjo
Rafael

3:38 da tarde  
Blogger Lilian said...

Uêba, Rafael Mantovani!
Tenho tido a felicidade de reencontrar vários alunos nos últimos tempos, e fico contente disso acontecer na Rede também.
Acho que a compulsão por informação, a compulsão por renovar a cena mental, pode se tornar doentia sim. Ela não é fruto exclusivo da existência da internet, apenas é potencialzada pela rapidez da circulação e pela existência do hiperlink.
Mas é preciso olhar também outros aspectos: quando, ao consumir compulsivamente livros e revistas, vc tinha possibilidade de dar continuidade aquelas conversas, escrevendo, desenhando, acrescentando mais um nó ao tecido?
O nome desse blog, Discurso Citado, está na base dessa postura dialógica: a Rede são conversações. Então trato de registrar as idéias que surgem da minha navegação por aí, bem como de leituras de livros, jornais, comentários que ouvi na TV, conversas que tive, enfim, "novos elos da corrente da comunicação".
Cabe a cada um ir compondo as suas correntes, estabelecendo os elos, linkando com outros e agregando um pouco de si. É assim, acredito, que podemos nadar nesse mar de enunciados evitando afogamentos e ressacas demasiadas.
Vi que você é poeta, show! Já escolhi um poema pra mim no teu blog, acredito que ele é pleno de novas respostas possíveis.
abço gde

6:23 da tarde  
Blogger Rafael Mantovani said...

sim, claro, acho que fui meio fatalista no meu comentário! Como acontece com tantas outras coisas, o problema não está na ferramenta, e sim no uso que se faz dela. Como qualquer ferramenta poderosa, é muito fácil usá-la mal. Pena que a internet não vem com manual de instruções espirituais :-)
qual foi o poema meu que você escolheu? fiquei curioso.
muito legal reencontrar você.
bjo

8:44 da tarde  
Blogger LITERAGINDO said...

Olá Lílian,
Cheguei até você pela boa postagem da Tati Martins, a sugerir pensamento reflexivo, autoconhecimento, atitudes como e a partir do que você provoca e também através de Ana Maria Machado. Bons links. Hoje estamos com uma variedade de leitura à disposição e exige-nos identidade, identificação, personalidade, autonomia... O ritmo alucinante faz com que as pessoas descentrem-se, e vivam mais o incentivo do que reconheçam a motivação, o que nos move diante de tantas informações. Buscamos o quê? Amizade? Amor? Companhia? Felicidade? A comunicação, a interação, o diálogo, a troca... Às vezes esquecemos de nós, da criança que requer cuidados...
Passei por aqui e gostei muito do seu estilo, instigante, necessário.

4:53 da tarde  
Blogger Rocio Rodi said...

Voltei Lílian,
Postei meu comentário como "Literagindo" (é outro blog que tenho com alunos de Pedagogia), e aqui me identifico para que me reconheça. Aquele Abraço! Maria do Rocio

8:28 da tarde  
Blogger Lilian said...

Rafael,
o poema que gostei é o que se chama Amnésia...vou tentar deixar no teu blog um comentário sobre ele.
Rocio,
coisa boa ler você por aqui, acompanho tuas participações - instigantes - numa lista. legal o título do teu blog - Literagindo. Só quem tem consciência do potencial de ação da leitura e da escrita é que pode promover uma aprendizagem, nesse campo, que seja transformadora.
abço!

1:51 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Guria

Que 2010 seja um lindo ano para ti e para tua família, feliz e bem movimentado :)

bjsss

11:05 da manhã  

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