domingo, maio 16, 2010

Revisitando as referências



Foi lá no começo da década de 80 que um abençoado aparelho chamado videocassete nos libertou da limitação de só assistir o que estivesse disponível nos cinemas da cidade. Morando em São Paulo, as opções quase sempre eram muitas, incluindo vários cineclubes, que nos garantiam opções de clássicos e filmes fora do grande mercado. Mas o surgimento das videolocadoras e a possibilidade de assistir em casa, no horário que fosse mais conveniente, e quantas vezes quisessemos, mudou definitivamente a nossa relação com o acervo cultural da humanidade produzido em película.
Para os cinéfilos e colecionadores, uma festa. Poder assistir mil vezes as cenas antológicas dos filmes favoritos. Saber de cor a fala brilhante de personagens que nos emocionaram, nos levaram ao riso ou nos levaram às lágrimas.
Isso sem contar, é claro, o papel do videocassete na gravação de programas da TV que em horários que estávamos impedidos de assistir. Aliás, esse é um caso no qual a evolução tecnológica não contribuiu para a ampliação da liberdade, pois a passagem do videocassete para os aparelhos de DVD cuidou de encarecer e dificultar as opções de gravação do sinal da TV. Será que foram acordos bem planejados nos bastidores pelos representantes da indústria de equipamentos e dos produtores de mídia?
Tudo isso me vem à cabeça por pura gratidão. Comecei a escrever esse post para falar do prazer que foi, na noite de ontem, assistir novamente o filme Muito Além do Jardim, após mais de duas décadas. O filme é de um diretor chamado Hal Ashby, o mesmo que fez Amargo Regresso, e tem no elenco o sensacional Peter Sellers e uma ótima Shirley Maclaine. Tem também os excelentes Melvyn Douglas e Jack Warden - nomes que passo a conhecer, graças a essa outra maravilhosa invenção que é o IMDB (Internet Movie Database).
O roteiro é assinado por Jerzy Kosinski, autor do livro que deu origem ao filme, de nome O Videota. Eu já havia lido o livro anteriormente, na escola. Foi uma daquelas poucas situações em que a experiência de leitora não gerou frustração na de expectadora.
Vi agora no Youtube a cena maravilhosa em que o personagem principal circula pelas ruas de Washington, ao som de uma versão fantática de Assim Falou Zaratrusta, produzida pelo brasileiro Eumir Deodato. Não vou colocá-la aqui - a qualidade do vídeo empobrece a genialidade do material.
A evolução da tecnologia deveria facilitar que o prazer de revisitar as próprias referências fosse acessível a um número cada vez maior de pessoas. Na verdade, ela já o faz - o torrent já foi inventado, a troca dos artigos digitais é um realidade na Rede. O que limita uma expansão real dessa prática é a dificuldade dos produtores para lidarem esse outro momento da vida cultural.

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4 Comments:

Blogger Marcelo Semer said...

Oi Lilian, tudo bem?
Muito legal o seu Blog. Eu já o conhecia, mas minha ignorância na internet me impediu de comentar quando visitei anteriormente. Agora também bloguei, como você viu. E vamos nos falando, porque temos muitas referências comuns para revisitar juntos. Mas, enfim, substituímos a tv do filme, pela net?
Beijos

6:48 da tarde  
Blogger Lilian said...

Êba, Semer, seja benvindo a essas conversas por aqui... Vamos nos falando mesmo!
E você já chegou provocando! Ótima pergunta - será que a Net pode cumprir, atualmente, o papel que a TV tinha na vida do Chance?
Eu sou uma otimista - provavelmente ingênua - e vou dizer que em alguns casos sim, mas há maiores aberturas para que em muitos casos não.
E 'bora promover diálogos verdadeiros, que assim a gente manda pra longe esse automatismo midiático...
abção

5:02 da tarde  
Blogger Jenny Horta said...

Olá Lilian! Incrível como revisitar referências como você coloca é interessante e prazeroso. Também li O videota na escola, mas não assisti. Vou procurar o DVD na locadora por aqui. Chorei muito anos atrás ao ver amargo regresso, pode??

12:28 da manhã  
Blogger Lilian said...

Olá Jenny, que bom te ler por aqui... Amargo Regresso também é um clássico. Assistir muitos anos depois também nos permite olhar com outros olhos, com mais experiência de vida. Acho que vou assistir esse também. Parabéns pelo novo blog!

8:30 da manhã  

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