sexta-feira, julho 16, 2010

Sentidos da Educação

A Educação é uma das bandeira mais levantadas em tempos de campanha política, e dificilmente haverá alguma liderança social que não a eleja como crucial para o desenvolvimento do país e a melhoria das condições de vida da população em seu conjunto.
Cabe, entretanto, considerar que a palavra "Educar", por si só, não explicita pressupostos de quem empunha essa bandeira, pois há inúmeras maneiras de educar, cada uma delas permeadas por visões de mundo e posicionamentos políticos que implicarão em escolhas muitos distintas em termos curriculares e metodológicos.
Portanto, quem diz "Educar" deveria ser cobrado a agregar um "Educar para quê" e um "Educar como".
Um dos primeiros autores a teorizar sobre escolhas curriculares, um norte americano chamado John Franklin Bobbit, em sua obra,"The Curriculum", de 1918 mostrava-se bastante convicto das funções que a educação deveria desempenhar:
"Em qualquer organização, os membros da direção e supervisão devem definir claramente os fins aos quais a organização se dedica. Eles devem coordenar o trabalho de todos, de modo a alcançar esses fins. Eles precisam encontrar os melhores métodos de trabalho e devem compelir os seus trabalhadores ao uso destes métodos. A teoria central é simples. A vida humana, apesar de variada, consiste na realização de atividades específicas. A educação, que prepara para a vida é aquele que prepara definitivamente e de forma adequada para essas atividades específicas".
(Veja aqui o original em inglês)
A influência do Fordismo, que corria solto na sociedade americana naquele momento de ampla expansão industrial, permeia forte essa postura. Educar, nesse caso, era sinônimo de educar para o mundo do trabalho. E o mundo do trabalho, naquele momento, era o mundo da fábrica, das tarefas fragmentadas e sequenciadas, dos prazos precisos, da submissão e enquadramento à hieraquia da engrenagem. Bobbit é o pai de uma tendência que ficou conhecida como Movimento pela Eficiência Social, que marcou parte do universo da educação nos Estados Unidos ao longo do século XX.
Ao longo da vida, esse mesmo autor relativizou essas afirmações, mostrando ter clareza de que a natureza da formação educacional não se adequava 100% à lógica da linha de montagem, em especial por que o produto final, o aluno, possui um componente chamado livre arbítrio, que pode por a perder os reiterados esforços de formatação e enquadramento da vida escolar.
Essa Educação calcada num consumo passivo de conteúdos, a serem devolvidos em avaliações que pouco pedem das pessoas a não ser a memória, infelizmente, ainda marca presença na nossa sociedade, com força, nesse século XXI. Ela convive com outras vozes, que pregam por uma cultura da participação, por uma Educação que promova a criatividade transformadora, não só a obediência e a manutenção do status quo.
A discussão corrente sobre a Reforma da Lei de Direitos Autorais representa uma ocasião privilegiada para cada sujeito que diz Educação explicite o sentido que dá ao termo e as implicações que decorrem de seu posicionamento. E para que cobremos de quem não diz, valendo-se de um manto de neutralidade e de senso comum que precisa ser desvelado.

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5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Lilian, gostei do seu texto. A palavra Educação, por si só, pouco diz, dado o grau de abrangência em que o termo incorre.

A educação em moldes fordistas parece ser ainda o pressuposto do que temos hoje em boa parte das escolas.

Acho que é necessário haver menos ideologia e mais pragmatismo nos PPP's das escolas, assim como um esforço para seguí-lo em conjunto. Talvez assim a comunidade escolar largue os modismos e comece a trabalhar com objetivos bem definidos.

Um grande beijo,
Prof_Michel
http://twitter.com/profmichel
http://historiadigital.org
http://filmehistorico.blogspot.com

3:30 da tarde  
Blogger Lilian said...

Ê Michel, bom te ler por aqui.
acho que se houver ideologia, ela estiver clara, e o pragmatismo for coerente, então fecharemos um ciclo necessário para o que chamei de esclarecer o sentido da Educação.
as vezes sinto que, em nome do pragmatismo, toma-se a ação docente como neutra, e isso é um equívoco.
abços
lilian

10:27 da tarde  
Anonymous Josete said...

Querida Lilian,
Eu acrescento lembrando Paulo Freire, Educar para que? Como? E Por quê?
Digo isso, porque nestas minhas andanças já encontrei com pessoas que se dizem educadores, no entanto, a Educação é apenas o segundo plano na vida deles. Ou seja, um “bico” que realiza após sua ocupação principal que não é a Educação...
Gostei do seu texto e assim que der irei citá-lo no blog Informática Educativa.
Beijão

9:28 da manhã  
Blogger Non je ne regrette rien: Ediney Santana said...

Educação é para a maioria dos narcopoliticos apenas fonte para roubo e nada mais...

10:34 da manhã  
Blogger Luísa Alves said...

Boa noite, Lilian!

Trabalho para divulgar os eventos da Unisinos (http://www.unisinos.br) e estamos promovendo, juntamente com o Instituto Humanitas (http://www.ihu.unisinos.br/), o XI Simpósio Internacional IHU. Neste ano, o tema será O (Des)Governo Biopolítico da Vida Humana.

Vamos contar com a presença de inúmeros professores da universidades nacionais e internacionais. E como o público do evento é de acadêmicos das áreas de humanas de todo o Brasil, pensamos que seria interessante aos leitores do Discurso Citado.

Tenho um release para repassar, se você tiver interesse no tema, ok?

Estou à disposição. luisaalves83@gmail.com

10:17 da tarde  

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